Maluf não é para amadores
Inácio Araújo
A imagem apareceu de repente, não sei se fazendo o zapping, mas tive a sorte de pegar Celso Russomanno desde o início de seu depoimento pós-eleitoral.
O conteúdo não interessa.
Ele começou dizendo que estava muito feliz com o resultado.
Dava para espantar, já que tinha sido derrotado na batalha para ir ao segundo turno.
Ele prosseguia dizendo que sua candidatura contribuíra para a democracia etc. e tal.
Bem, qualquer candidato poderia reivindicar ter contribuído com a democracia pelo simples fato de se candidatar.
O interessante é que ele seguia literalmente um roteiro seguido anos antes por Paulo Maluf, ao admitir uma derrota, creio que para Mario Covas, enfim… O adversário não é o que importa agora.
Quando todo mundo esperava encontrar um Maluf derrotado, abatido, lá estava ele, todo fanfarrão, muito mais sorridente do que o vencedor, dizendo que ele sim era o vencedor, porque concorrera e porque era assim que se faz democracia etc. etc.
Enfim, ele nos dava uma lição de democracia. Ele.
Russomanno, que passou a campanha negando Maluf mais do que Pedro negou a Jesus na quinta-feira, na verdade foi buscar nele a inspiração para sua fala.
A diferença é que, enquanto se dizia extremamente feliz, incomensuravelmente feliz, dava para sentir as lágrimas correndo por seu rosto abatido como nunca.
Essa imagem é que deu, para mim, a medida do personagem. Ele não é Maluf.
Maluf: podemos amá-lo ou detestá-lo, mas é um profissional. Se não fosse político certamente iria arrebentar como ator.
Ele, Russomanno, é uma espécie de Francisco Rossi (alguém lembra?) piorado. Ou um Pedro Geraldo Costa (idem). Caras que por algum motivo aparecem, têm votação expressiva e somem do mapa.
Russomanno e o vácuo são a mesma coisa. Pode por a Igreja Universal por trás. Pode por até o Vaticano. Não pesa de jeito nenhum.
Devia estar feliz não por ter colaborado com a democracia (nesse caso, Levy Fidelix e Eymael deviam ganhar estátuas na Praça dos Três Poderes), mas por ter sido eliminado logo de cara.
Qualquer um dos outros adversários (inclusive Chalita) iria passá-lo no moedor se isso acontecesse.
Enfim… não é Maluf. Ser Maluf não deve ser fácil: exige preparo, disciplina, profissionalismo.