Abrindo caminho a bala ou Faroeste Caboclo
Inácio Araújo
Cá entre nós, Faroeste Caboclo não é o melhor dos filmes.
Assim como no filme do Karim Ainouz a partir da música de Chico Buarque eu não consigo ver muito bem a relação entre as duas coisas, aqui a fidelidade à música de Renato Russo é, por assim dizer, canina.
Então há uma necessidade quase insana de tudo aproximar à música.
Isso, claro, dentro da dramaturgia arcaica do nosso cinema comercial.
Mas o filme faz sucesso.
Os filmes em que a música é de certo modo tematizada têm sido um porto seguro do filme comercial brasileiro.
Há 2 Filhos de Francisco, Somos Tão Jovens, Cazuza e agora Faroeste.
Deu menos certo no Gonzaga, talvez porque o velho Gonzaga já não seja tão popular, talvez porque Gonzaguinha nunca tenha sido. Talvez porque fosse a mais intelectual de todas.
De todo modo é uma história muito bem construída, acho que a mais sofisticada de todas elas, embora a direção tenha lhe dado um tom meio sentimental que, em definitivo, não a beneficiou.
E a constância do sucesso ou meio-sucesso é incrível, porque a música do Brasil é incrível.
Mesmo o documentário musical dá pé: Cartola, O Mistério do Samba, Uma Noite em 67, Tropicália, todos deram certo à sua moda (desses só me parece meio fraco O Mistério, meio fraco como imagem, mas a música segura o rojão).
Não é apenas uma questão comercial que está envolvida nisso.
A música é esse lugar,no Brasil, em que todos nos encontramos. Aquilo que pode abrir caminho para uma democracia, isto é, um país onde todos nos reconheçamos, uns aos outros.
Anda difícil. Eu, pelo menos, voltarei a isso.