Blog do Inácio Araújo

No teatro com Bob Wilson

Inácio Araújo

Achei uma beleza “A Dama do Mar”, o espetáculo que Bob Wilson montou no Sesc Pinheiros.

Pela primeira vez trabalhou com atores brasileiros, e eles me pareceram impressionantes, quase sempre, como a atriz principal do dia em que estive lá.

Chama-se Ondina Clais Castilho. Não tem nem nome artístico. Não faz parte do circuito “ricos e famosos” que povoa nossos elencos e mentes.

Não gostei da marcação muito agitada de Bete Coelho. Francamente, é uma atriz com expressão tão forte, que fica, me parece, melhor quando não faz nada (aparente).

Mas isso é muito pouco. A concepção de luz e cenário é, como sempre, muito forte em Bob Wilson. Se tudo mais falhar, isso não falha, não tem como.

A luz me lembra em vários aspectos os filmes de Douglas Sirk, a luz de Rudolph Maté, com seu hábito de jogar os personagens da luz na sombra em apenas um passo.

Mas, claro, Bob Wilson é todo clean.

Agora, o som faz parte imensa da peça: há sons e músicas, que encontram por vezes o movimento dos atores (há um momento muito interessante, acho que é Ligia Cortez, uma das filhas, que se move parecendo uma gaivota).

Por fim, me deixou feliz saber que o amigo André Guerreiro Lopes fez a assistência de direção da peça. Deve ter aprendido um bocado. E ele é um diretor teatral com intuição visual muito forte, de maneira que a experiência deve ser extremamente proveitosa para seus próximos trabalhos.

Mas vejo essas visitas estrangeiras ao Sesc (ah, anda faltando o Peter Brook, o incomparável) como importantes para o teatro brasileiro, e não só, em geral. Nos ensinam, por exemplo, a necessidade de rigor. E, ainda, que nem só de atores da Globo se faz o mundo.

CineOP

Estarei longe do CineOP que está começando.

Além do que teria a lamentar habitualmente, o festival (não é bem um festival, é um encontro sobretudo, com restauros, com discussões muito ricas entre especialistas) de Ouro Preto este ano homenageará Walter Lima Jr., que é um diretor de cinema excepcional e uma pessoa idem.

É uma lástima que ocorra tão perto do Cinema Ritrovato. Espero no ano que vem ser convidado, até porque tudo indica que este será meu último ano no Cinema Ritrovato de Bolonha: as passagens aéreas estão caríssimas este ano, e olha que fiz a compra antes do dólar, também ele, começar a voar.

Mas, caramba, só de ler a programação já começo a chorar por tudo que não poderei acompanhar, porque há muito mais filme interessante lá do que se pode assistir.

Vamos lá.

Faroeste caboclo

Não entendo muito bem o ambiente de violência em que vivemos.

Ele é um tanto generalizado.

Todo mundo sabe que PMs me assustam, não é de hoje.

Prefiro manter distância.

Mas a imagem do PM sangrando no UOL é horrível.

Essa questão de violência tem de começar a ser vista como geral.

Não é só o cara que bota fogo nas pessoas, que mata gratuitamente.

A sociedade está contaminada por isso.

Ou bem se cria um plano para mudar o estado de espírito das pessoas, que decidiram resolver no braço qualquer divergência (essa ''percepção de que não existe justiça'' tão divulgada pelos meios de comunicação não pode se isentar disso, nem de longe) ou bem vamos para a barbárie geral.

De passagem: as passagens de metrô e ônibus subiram de R$ 3,00 para R$ 3,20. Há um bom tempo não havia aumento. E ele não chegou a 10%. Me parece que foi inferior à inflação do período. Então não vejo motivo para tanta indignação. Já se engoliram aumentos bem mais salgados, ah, muito mais, sem dizer uma palavra. Não entendo o que está havendo agora, mas o desarranjo é profundo.