Foxfire, o sentido que não se acomoda
Inácio Araújo
Laurent Cantet é o mais inteligente dos diretores franceses atuais, ao lado de Olivier Assayas.
É talentoso também, mas isso é outra história, ou talvez seja uma decorrência.
O fato é que “Foxfire” me surpreendeu o tempo todo.
Primeiro, porque sua primeira aparência é a de um filme independente americano, desses que hoje são apenas truque, embora um truque diferente dos da indústria.
No momento seguinte, quando se vê que estamos diante de uma gangue de garotas, eu temi que fosse como o filme da Sofia Coppola, esse filme vazio sobre o vazio que fez há pouco.
De fato, é uma gangue de garotas dos anos 50, 1950 claro, que se une para combater a violência e o desdém dos rapazes.
Um feminismo? É o que se anuncia.
Mas essa gangue variará. Ela introduzirá algo de revolta anticapitalista, uma coisa meio anárquica, meio selvagem, tipo blackblocs.
Então, a primeira dimensão está de certa forma superada.
Depois temos o grupo: essa experiência única, em que vários são um só.
E esse espírito de grupo, mais a necessidade de sobrevivência (de “viver, não sobreviver” insiste Legs, a líder delas) as levará ao crime.
Essa incursão ao crime, mas as dissenssões quase naturais de ideias que surgem levam o grupo à fatal ruptura. Ao grupo, ao muitos em um, segue-se sempre a ruptura.
E depois vem a incursão à marginalidade.
Cada vez pensamos que a gangue, e com ela o filme, vai se acomodar em algum lugar: feminismo, anarquismo, socialismo, rebeldia em geral, grupismo pré-hippie, criminalidade…
Mas ele não se detém. O sentido não repousa: circula.
Bom, muito bom filme.