Luz nas Trevas (de Strindberg)
Inácio Araújo
Esta será a última semana, no Sesc Santana, de “O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência”, que André Guerreiro Lopes adaptou de Strindberg (O inferno e trechos do Sonho), dirigiu e ainda atua.
Não me surpreendi nem com a direção, pois já havia visto alguns trabalhos muito talentosos dele, embora em escala menor (neste ano ele fez assistência de direção para Bob Wilson), mas desta vez acho que teve mais dinheiro e tal.
Mas nunca o havia visto no palco como ator (no cinema, sim: ele fez o bandido Tudo ou Nada, o filho do Bandido da Luz Vermelha, no Luz nas Trevas, da Helena Ignez). E me pareceu brilhante.
No elenco estão a Djin Sganzerla e a Helena Ignez, atrizes já bem provadas em teatro (em cinema, nem se fala).
Trevas na Luz: a Cinemateca
E o que aconteceu com a manifestação de sábado em frente à Cinemateca?
Não vi notícia alguma, em rede social, jornais, nada.
(Minha culpa, também: não pude ir lá).
Mas como há males que vêm para bem, eis que a atual crise começa a pôr em relevo o setor de difusão da Cinemateca, que sempre foi o primo paupérrimo, desprezado, incômodo, pedinte e mais o que se quiser dessa instituição.
O folder que acompanha a atual programação traz uma sintomática declaração de princípios dizendo com outras palavras, talvez, que preservar sem exibir não serve para nada.
Puff!!! É preciso uma crise desse tamanho para se perceber a evidência!
Bem, então agora é hora de lembrar que difusão sem preservação também não leva muito longe.
No mais, programa-se o lançamento do segundo número da revista Cinemateca.
Isso é essencial: fazer da Cinemateca um lugar de encontro das pessoas, não apenas para protestos, mas para conversas e tudo mais.
Sim, ter um bom café é importante também.
Cultura, a TV
Outro dia, no Jornal da Cultura, no finalzinho, entra uma reportagem sobre extensões, obras e etc. do Metrô. Entra o governador de S. Paulo com aquele capacete, fala bonito e tal.
Então fica claro que, à parte toda a besteirada introduzida na programação, um dos objetivos da mudança de direção era fazer, sem muito disfarce, propaganda do governador e, mais genericamente, preparar sua reeleição.
Em todo caso, o Metrópolis permanece intacto, o que é bom: tinha melhorado nos últimos tempos.
O mais rico do mundo
Abro o UOL e vejo a chamada informando que Bill Gates voltou a ser o homem mais rico do mundo.
O que me pergunto: será que o mundo inteiro se interessa por uma informação dessa ou só o Brasil?
E afinal a quem interessa saber isso? Ao segundo colocado, talvez? A algum ladrão de casaca?
Antes de interessar a esses, esses rankings me parece que têm a função de alimentar a indústria da irrelevância, talvez a mais próspera das últimas décadas.
Ela se desenvolve com uma fúria inacreditável.
Quando, há alguns séculos já, apareceu a revista Caras, achei que aquilo seria coisa de curta duração, que não interessava a ninguém.
Engano cavalar! É um sucesso total. Não sei se alguém de fato se interessa pela vida das celebridades. Provavelmente me engano, mas devem pegar a revista com o mesmo desinteresse com que eu a folheio quando vou ao dr. Alexandre.
O dr. Alexandre há algum tempo tinha a Piauí no consultório. Mas era meio frustrante: você começava a ler uma coisa interessante, aí ele chamava para entrar. Dava vontade de pedir licença e dizer “volta daqui a 15 minutos, estou só acabando de ler uma coisa aqui”.
Com Caras, nada disso. A gente larga na hora.