Blog do Inácio Araújo

Missa Profana

Inácio Araújo

tatuagem

A cada dia Tatuagem me interessa mais, ou me fascina mais.

É estranho, porque isso acontece meio em paralelo com essas sessões de STF que aparecem na TV: há um quê burlesco ladeando todas aquelas formalidades que o Joaquim Barbosa bota de escanteio, meio como se fosse um Grouxo Marx sem humor.

E o Irandhir, ao contrário, monta no filme um burlesco, com travestis, máscaras, coisas que poderiam parecer Fellini caso não fosse uma agressividade de Pasolini no fim da vida, mas desse burlesco decorre uma solenidade estranha, subversiva, como de um sacerdote numa missa profana.

Isso me chama mais a atenção hoje porque ouço notícias da eleição no Chile, onde se pode usar as cédulas para protestar.  Aqui temos urna eletrônica e a TV vive se vangloriando desse vanguardismo que, aparentemente, não interessa a mais ninguém.

Ele existe porque somos um povo terrivelmente submetido ao autoritarismo. E a urna eletrônica é a excelência tecnológica desse autoritarismo. Ali não se usa a urna para protestar. Só se pode votar. Os nulos não são contados, como se não existissem. A contagem não se deixa recontar.

E Tatuagem se faz de belezas e garranchos. Contra essas coisas. Contra o bemfeitismo também.