A solidão
Inácio Araújo
Não, “Pirocas ao Vento” não era um título que sinalizava despedida do Uol.
Sinalizava, apenas, que em “Um Estranho no Lago” os caras ficam pelados, na boa, enquanto tomam sol e esperam parceiros.
Há, porém, algo mais decisivo no filme, que a mim se mostra aos poucos.
Quando um chega à praia, vários olhares se voltam para ele.
E são de pessoas sós. Tremendamente sós.
A solidão é a marca deste filme, mais que a sexualidade, bem mais.
Esses caras que andam no bosque, sozinhos, atrás de companhia, parecem zumbis, não têm caminho definido, parece não terem nada a fazer, exceto encontrar uma companhia.
Uma companhia invariavelmente passageira.
Ninguém se encontra à noite, ninguém sai para jantar. Trepa-se, ponto.
E ninguém ali é diferente de Henri, o solitário declarado, que busca apenas uma companhia para conversar.
É como se a relação sexual cobrisse tudo, ou encobrisse tudo, ou tomasse o lugar de tudo.
Pensei que fosse um filme sobre desejo e morte, mas já tenho minhas dúvidas.
Hoje, este me parece um filme que veio mesmo para marcar, como o Azul-Kechiche.
A solidão II
Neste filme, os personagens olham sempre para aquele que chega.
Aquele que chega é, também, o espectador, a quem o filme dirige seu olhar.
Porque, se esse é um filme sobre a solidão, estamos todos implicados por ela.
Este é um filme sobre solidão de férias.
E, fora de campo, sobre aquela, de um mundo em que os contatos são limitados ao mínimo.
(e o trabalho expandido ao máximo).
Outro aspecto inquietante de ''Um Estranho no Lago'': os caras nunca usam camisinha.
Ou já gastaram todas as que trouxeram, ou esqueceram em casa, não importa.
Porque, talvez, o contato imediato seja o único possível.
O único sinal de vida, na verdade.
Viver não parece tão indispensável assim.
Como encerrar um ciclo
No caso do nosso blog:primeiro, tenho que agradecer aos muitos amigos que, via facebook sobretudo, têm manifestado tristeza pelo fim do blog.
Não vou nem falar do Giannini, que me trouxe para o Uol, nem da Beatriz Seigner,
que se oferece para montar um novo blog comigo.
O que encerrará o blog aqui no Uol, em todo caso, é a entrevista com Marcelo Lordello. Porque seu filme, “Eles Voltam”, entra apenas em fevereiro. Assim, que fique a entrevista, muito boa, garanto, o mais perto possível do lançamento do filme.
Em seguida: claro que posso ter outro blog, mas a verdade é que minha necessidade de expressão ainda é menor do que a de receber pelo que faço. Me parece urgente que paremos de trabalhar de graça. Hoje em dia ninguém mais quer pagar pelo que fazemos referente a cinema ou artes em geral. Como se fizéssemos isso apenas por prazer. Não é bem assim.
Uma resposta
Ao Marcus, que me toma por homofóbico, mas se mostra bem gentil.
Não confundo filme com orientação sexual: é um filme de primeira, acho que isso está claro.
E nem acho que a orientação sexual tenha muito a ver com o filme propriamente dito.
Não sou homofóbico, meus amigos poderão comprová-lo.
Mas não acho que tenha de aderir à sua orientação sexual para demonstrá-lo.
Uma das boas coisas deste filme é ser um filme fora do circuito homossexual (como Tatuagem, como Azul É a Cor Mais…) e colocar em cena essa sexualidade.
Desculpe, mas não vejo mal nenhum no título ''Pirocas ao Vento'', longe disso: é uma praia onde os caras ficam pelados a maior parte do tempo. Seria menos homofóbico se se falasse de ''Xoxotas ao Vento''? Algum deles é ofensivo?
Mas vamos parar de não me toques: não tenho de achar legal a ideia de beijar um bigodudo. O que não me parece correto é condenar quem goste. São coisas diferentes.
(P.S. – A resposta vai aqui porque não sei mais entrar no lugar de mandar respostas do blog).