Um achado em Tiradentes
Inácio Araújo
Em Tiradentes a sala de debates está sempre abarrotada. Ninguém sabe até hoje se os debates são um sucesso ou se o pessoal vai lá para fugir do calor. Mas tudo bem: o calor está de arrebentar e ninguém tem a menor esperança de raciocinar fora do ar condicionado.
Cheguei ontem, arrebentado. Vi uma boa animação e fui dormir direto.
Hoje, no debate da manhã, o produtor de ''Enchente'' me pareceu o grande personagem. Chama-se Cavi Borges. Bela versão de cavador moderno. Um produtor na escola do Roger Corman, do Galante, se se quiser. Um cara que produz sem condições de produzir.
Difícil de explicar. Mas vão aí uns exemplos: ele fez um filme e deu ao camelô, pediu para que o cara pirateasse. O camelô vendeu uns bons filmes, veio a fama de ser ''o novo Tropa de Elite'' (acho que se chama ''Mateus, o Balconista''). No fim, o Canal Brasil comprou o filme. O lucro ele reinvestiu em outro filme.
Outra be m Roger Corman. Os diretores fizeram um filme de 45 minutos. Precisava de mais metragem para fazer um longa e ter algo minimamente comercial nas mãos. Acabou que ele entrou em contato com a Liv Ullman e, melhor, ela topou entrar no filme.
Com essa concordância em mãos, ele levantou com o Canal Brasil uma grana para terminar o filme. Só que a Liv Ullman deu pra trás. Ele fez com outro ator. Não Liv Ullman. Mas entregou o filme.
Não vi o filme, não sei se é bom ou não. Mas como quase todo o cinema que se anda fazendo é, como definiu o Sérgio Alpendre, ''bundão'', aí está um cara com imaginação, iniciativa, generosidade e versado na arte da gambiarra: é assim que cinema é legal.