Quando o artista vai preso
Inácio Araújo
Existe algo de diferente no rosto dos artistas, quando são presos em manifestações, como aconteceu agora com George Clooney.
Não é como nós, que temos a temer da polícia. A polícia faz a prisão de modo meio protocolar, um pouco como se fosse sua obrigação, um pouco envergonhada de estar fazendo propaganda para o ator e para Hollywood em geral.
Quanto à celebridade, seu rosto tem uma dupla expressão, como se uma se sobrepusesse à outra.
Primeiro, há algo de heróico nele, como se voltasse à condição de simples cidadão que cumpre seus deveres políticos.
Ou melhor, que representa um papel cheio de dignidade (no caso de Clooney é papel que representa com frequência, no mais: quase um duplo de seu personagem no cinema, mas referendado agora pela vida real).
De todo modo ele sabe que voltar à simples cidadania é impossível, de maneira que existe um quê de alívio, de certeza da impunidade em sua expressão.
Com essa certeza, vem também a certeza da vitória, de que isso vai estar nos jornais, na TV, na internet, que sua causa acabará, afinal, triunfando.
No tempo do macarthismo a barra era um pouco mais pesada, mas a mesma sensação é transmitida pelas fotos de época, de Bogart etc.
Não se volta a ser um homem qualquer, exceto voltando a ser um homem qualquer. Aconteceu com alguns atores no macarthismo. Não vi foto nenhuma deles em manifestações posteriores.