Blog do Inácio Araújo

Arquivo : June 2013

E o cinema, nada?
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Inácio Araújo

 

Não é por falta de entidades (Apaci, Abraccine etc.), nem de Facebook, nem listas, nem nada.

O que está faltando para o cinema sair e se manifestar em defesa da Cinemateca Brasileira?

O país está em pé de guerra e não vi uma palavra dos cineastas sobre a situação insustentável em que se encontra a instituição.

Vão investigar se houve corrupção? Ok. Investiguem. Mas por que o MinC paralisa tudo, interrompe as funções mais elementares, priva a Cinemateca de metade do seu pessoal?

Tudo no MinC entrou no ritmo atual do governo: lenga-lenga pura.

Como se faz para sair dessa paralisia?

Tem que parar umas ruas.

Será uma ótima ocasião para as pessoas conhecerem, de passagem, a importância de preservar a memória de imagem do país.


Fogo no Rabo
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Inácio Araújo

 

Estranho como coisas que deixaram de acontecer, que nunca aconteceram, que precisavam acontecer, de repente entraram na pauta dos políticos.

A TV passou o dia em torno disso

(Ou de filmes desanimadores, como, aliás, quase todos que estão no cinema).

Eu vejo que, com o tempo, começa a se formar uma diferenciação saudável entre direita e esquerda (incluso direita fascistóide, incluso milicos reformados pondo as manguinhas de fora).

Um belo artigo do V. Safatle me ensinou que a mobilização é algo formidável. Vejo, pelo tanto que a Câmara dos Deputados está fazendo em um dia, que é mesmo.

Vândalos vs. Pacíficos

Eis a nova divisão política aceita pela TV, pela Globo sobretudo.

Os manifestantes são pacíficos.

Pacíficos como? Desde quando?

A manifestação é, em si, uma violência. E ninguém ignora isso.

Quando o cara fecha a av. Paulista ele perpetra uma violência óbvia.

Quantas vezes houve negociações sobre passeatas na Paulista (é um exemplo)?

E podia ir de tal a tal hora. Ocupar uma faixa. Etc.

Agora, nem pensar.

O pessoal ocupa a rua, a avenida e tudo mais. É um levante.

Um levante não pode ser pacífico.

A nomenclatura, no caso, existe para domesticar.

Essa violência é que interessa, diga-se, e que está botando fogo no rabo dos políticos todos.

Vejo coisas que estavam na lenga-lenga há anos (prioridades para Educação e Saúde, por exemplo) que de repente entram na pauta de urgência.

PEC-37

A que entrou mais depressa foi a votação da PEC-37. Não sei o que é. Não tenho nenhuma posição a respeito. Mas sei que os procuradores estão contra.

Bem, eles têm um belo lobby nas ruas, seja qual for o motivo.

E mil vezes um lobby aberto, na rua, do que o sinistro lobismo dos corredores do poder.

Os vândalos

Mas eu falava dos Pacíficos.

Como não são obviamente pacíficos, só são pacíficos por oposição aos Vândalos.

Os que depredam coisas, se descontrolam, ou simplesmente aproveitam para saquear lojas ou roubar mesmo.

Em geral são casos de crime comum (quando não de cretinismo direitista).

Mas eles convêm muito, em especial, à domesticação dos outros, os Pacíficos.

Passe Livre

Nada pacíficos, aliás, os meninos do MPL. Foram lá, falaram com a presidente, ouviram, foram respeitosos, mas claros: o governo não entende patavina de transportes.

Na oposição

Depois de não produzir uma ideia desde a morte de Mário Covas, a oposição levanta a cabeça e… repete as ideias que nos últimos dias  pipocaram nas ruas.

Incrível: se tirar FHC parece que ninguém formula nada ali (digo: não se trata de concordar ou não).

Não queria admitir, mas começo a reconhecer que, de fato, o sistema representativo aqui não representa nada exceto os próprios caras. Como eles podem ser representantes (a situação e a oposição), voltarem todo fim de semana para “suas bases”, como dizem, e não sacarem nada?

Na situação

O que se nota, pela TV, aqui, é que os caras da situação estão pondo os panos quentes possíveis na situação.

Qual será a ideia?

Voltar à lenga-lenga anterior?

Claro: as reivindicações não têm um limite, mas o dinheiro tem.

De acordo.

Mas se sentisse que a coisa andava sem empurrar ninguém ia perder tempo se sublevando.

Chamada a Cobrar

Já falei aqui do filme da Anna Muylaert? Originalmente telefilme. Pequeno orçamento. Filme feito praticamente com uma atriz e uma voz (ambos ótimos, é fato). Falso filme sobre os falsos sequestros que marginais presos puseram em moda durante um tempo. Filme mais sobre alienação, ou sofrimento, ou o telefone celular, ou as relações familiares num momento de crise. Enfim, do pouco (e com pouco) a Anna Muylaert faz muito.

O pleno e o vazio

Passo para o oposto. Do pleno ao vazio. Não sei se alguém partilha essa impressão. Mas, de repente, a crise, as ruas cheias, as manifestações, tudo isso, fazem notar o quanto os filmes publicitários são artificiais, vazios.

Cinema Ritrovato

Viajo hoje para o Cinema Ritrovato (se nenhuma manifestação me aparecer pelo caminho do Aeroporto, claro). Ano de Allan Dwan.

É e será um desses momentos cada vez mais gostosos e preciosos do cinema: o momento em que ele se deixa reencontrar, em que os filmes são refeitos, restaurados, revistos. Revivem, enfim.

E, como alguém já disse, é o único festival do mundo onde só tem filme bom.

Ou quase.

De lá escreverei.


Caos de desejos
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Inácio Araújo

Do caos de desejos que irrompe na rua uma narrativa começa a surgir.

Leio no telejornal da Globonews: O Povo nas Ruas.

A Globo escolheu seu lado?

Ou será o povo nas ruas que escolheu a sua Rede Globo?

A bandeira do Brasil cobre o prédio da Fiesp.

E alguém diz que aquilo é lindo.

(a mocinha do jornal Globonews chama um vídeo mandado pelos espectadores: Globo e você tudo a ver!)

Tem pra todos os gostos. Tem até bandeira brasileira no prédio da Fiesp.

Uma coisa eu não vi: nenhuma defesa das conquistas sociais.

A rua é de direita

Talvez a direita ainda não saiba direito, mas esta é uma revolta da alma.

Da alma de direita.

Ela ainda não sabe porque não está acostumada.

São esses caras de meia-idade com suas panças bem nutridas que estão na rua para salvar o Brasil.

Só que a revolta não sabe aonde ir. Ela sabe o que não quer.

O povo unido rejeita os partidos.

Rejeita, não. Pelo que eu soube, expulsa.

É que não há nenhum caudilho engatilhado.

E o exército não quer aventura.

Mas o nome disso é golpismo.

(A narrativa da Globo apenas confirma).

A esquerda é burra

Sim, é quase uma lei: nessas horas, quando seria necessário defender as conquistas sociais (que por sinal são mínimas, é verdade), ela trata de repicar as reivindicações da direita.

Normalmente, isso se chama de passar a corda no próprio pescoço, coisa em que é mestra.


Sonho e pesadelo
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Inácio Araújo

 

Todo mundo tenta entender as mobilizações. Que eu tenha visto, só o cara da Record já entendeu.

Tendo, subitamente, perdido sua bandeira favorita (polícia tem que dar pau com violência) passou a defensor dos pagadores de impostos.

Ah, eis como transformar um movimento que, aos trancos e barrancos, afirma a cidadania, em movimento de consumidores.

Todos os outros, que eu leio, tateiam com honestidade. Buscam pistas. Li coisas muito boas no Safatle, depois no Marcelo Coelho. Mas todos somos cegos tateando o elefante e tentando descobrir o que é isso.

O Jabor, me dizem, fez um voltaface violento. De criminosos um dia os rapazes passaram a heróis nacionais no outro. Mas não vi.

O Antonio Prata e um ministro que apareceu na TV foram os com quem estou mais de acordo: ainda não entendemos patavina.

Vi, gravado, o Roda Viva da segunda-feira. De um modo geral, os jornalistas eram muito, fortemente críticos ao movimento de rua.

A menina e o menino deram um banho neles.

De lá para cá a imprensa virou a favor do movimento, mas em larga medida sem saber a favor do que está verdadeiramente.

Em todo caso, não me parece que o essencial esteja na idéia de Passe Livre, nem de 20 centavos.

Há muito mais nisso.

Acho que o Prata (ou o Marcelo?) fala do direito de sonhar.

Isso é vital.

Chega de realismo!

Todas as decisões parecem muito distantes de nós, isso é certo.

Algumas unanimidades:

Contra a polícia. Contra a violência.

Muito bem, também sou contra. Mas me parece uma coisa que precisa ser mais ampla. É uma questão de ver a vida. Não pode dar pau na passeata, é claro. Mas também não pode pegar o menino da periferia, só porque usa havaiana e bermuda, e encostar na parede e pedir todos os documentos. Ou achacar o guardador de carro que vai ganhando sua vida ao lado do museu (honestamente).

Porque quando as pessoas sentem que sua vida não tem valor (para a polícia, poder imediato), não se pode pedir que dêem valor à vida dos outros, nossa, dos ricos.

Contra o vandalismo.

O vandalismo, na sua versão mais recente, é a violência do pobre.

Em Brasília tomaram o Congresso, para mostrar o quanto não nos sentimentos representados pelos representantes. Estou nessa.

No Rio, quebraram os vitrais franceses da Assembléia. Não estão contra os vitrais, creio eu, mas contra o legislativo.

Em São Paulosaquearam as lojas. Todo mundo está contra.

Mas não me parece tão simples, a partir de uma frase que ouvi nos jornais: A vida inteira nos roubaram. Agora é a nossa vez!

São, portanto, pessoas mais pobres, que se sentem roubadas diretamente pelos lojistas. Não abstraem muito. Quem rouba são as Americanas, é a Marisa e tal.

Mas o sentimento é mais ou menos o mesmo de muita gente que está na rua.

Então, à parte isso provocar reação policial, a onda é a mesma. Cada um surfa como pode.

Se todo mundo está cheio da lenga-lenga que, acho que o Prata escreveu, tudo melhora, melhora, melhora, mas continua horrível, se é preciso mesmo virar a mesa e sonhar, tem esse outro lado, o pesadelo. O que está fora de qualquer sonho.

Como todo o resto, será preciso entendê-lo.

(Muito pessoalmente: entre as coisas decididas às nossas costas está essa regulamentação da meia-entrada.

Primeiro, para sacanear a UNE, tiraram dela a exclusividade de emitir carteira de estudante. Daí virou uma esbórnia, é claro, só podia virar.

Agora querem estabelecer uma quota: 40%.

Ok. (ok nada, só para raciocinar) Mas quem vai controlar quando chegou aos 40%?

E qual o compromisso assumido (e assinado) por exibidores, produtores, o diabo, em troca disso?

E se o limite é 40%, qual a porcentagem da meia-entrada hoje em dia?

Tudo isso é nas nossas costas. E vai cair, entre outros nas costas dos espectadores de cinema).


É de amargar
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Inácio Araújo

O movimento de rua impressiona muito por seu caráter de movimento. Quero dizer que o Brasil está acostumado a ver protestos como “subversão”. Essa é a visão histórica. Essa é a que persiste: não se pode parar a av. Paulista, não se pode parar o trânsito. Manifestação e greve só se não atrapalharem ninguém.

O governador de SP é bem paulista: por trás das passeatas há motivação política.

Claro que há. Não pode haver?

Onde já se viu coisa igual? É de amargar isso.

A PM:

Me parece que existe algo muito profundo em relação à PM, e talvez não só a paulista.

Na periferia esses caras vivem destratando as pessoas.

Já vi, por nada, só por causa da cor ou da roupa modesta, pessoas serem conduzidas ao muro, mãos na cabeça, essas coisas.

A todo momento a PM está lá para mostrar que a vida dos pobres não tem valor nenhum.

Não são os únicos: o transporte é outro momento em que dá para sentir a falta de consideração pela vida das pessoas.

Bem, quando alguns bandidos demonstram que a nossa vida (nós os brancos, nós abonados, nós que eventualmente tiramos dinheiro do banco) também pode não valer nada, basta que eles atirem, ou que botem fogo nas pessoas, estranhamos, pedimos a lei do talião e tal e coisa.

O que aconteceu quinta, em SP, foi a transferência disso para o centro.

Mais que R$ 0,20

Não sei se são 20 centavos que motivam os protestos.

Não seria a população sentir que não temos avanços reais, do ponto de vista social, desde o governo Lula?

Que acontece certa burocratização, certa frieza no trato das coisas dos pobres?

Não digo que o governo está errado ou certo, não é isso.

Penso que há uma letargia política (“motivação política”) que ninguém aguenta mais.

A oposição não tem uma ideia que preste, vamos falar a verdade, desde que promoveu o Plano Real.

A situação está acomodadíssima no comodismo da oposição.

Os vinte centavos são uma ideia, ao menos.

Claro que na manifestação haverá um tanto de gente de extrema esquerda, outros de extrema direita, e também anarquistas (direita e esquerda), baderneiros, nazistas o que for.

Não há clareza. Há uma sensação de saco cheio.


No teatro com Bob Wilson
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Inácio Araújo

Achei uma beleza “A Dama do Mar”, o espetáculo que Bob Wilson montou no Sesc Pinheiros.

Pela primeira vez trabalhou com atores brasileiros, e eles me pareceram impressionantes, quase sempre, como a atriz principal do dia em que estive lá.

Chama-se Ondina Clais Castilho. Não tem nem nome artístico. Não faz parte do circuito “ricos e famosos” que povoa nossos elencos e mentes.

Não gostei da marcação muito agitada de Bete Coelho. Francamente, é uma atriz com expressão tão forte, que fica, me parece, melhor quando não faz nada (aparente).

Mas isso é muito pouco. A concepção de luz e cenário é, como sempre, muito forte em Bob Wilson. Se tudo mais falhar, isso não falha, não tem como.

A luz me lembra em vários aspectos os filmes de Douglas Sirk, a luz de Rudolph Maté, com seu hábito de jogar os personagens da luz na sombra em apenas um passo.

Mas, claro, Bob Wilson é todo clean.

Agora, o som faz parte imensa da peça: há sons e músicas, que encontram por vezes o movimento dos atores (há um momento muito interessante, acho que é Ligia Cortez, uma das filhas, que se move parecendo uma gaivota).

Por fim, me deixou feliz saber que o amigo André Guerreiro Lopes fez a assistência de direção da peça. Deve ter aprendido um bocado. E ele é um diretor teatral com intuição visual muito forte, de maneira que a experiência deve ser extremamente proveitosa para seus próximos trabalhos.

Mas vejo essas visitas estrangeiras ao Sesc (ah, anda faltando o Peter Brook, o incomparável) como importantes para o teatro brasileiro, e não só, em geral. Nos ensinam, por exemplo, a necessidade de rigor. E, ainda, que nem só de atores da Globo se faz o mundo.

CineOP

Estarei longe do CineOP que está começando.

Além do que teria a lamentar habitualmente, o festival (não é bem um festival, é um encontro sobretudo, com restauros, com discussões muito ricas entre especialistas) de Ouro Preto este ano homenageará Walter Lima Jr., que é um diretor de cinema excepcional e uma pessoa idem.

É uma lástima que ocorra tão perto do Cinema Ritrovato. Espero no ano que vem ser convidado, até porque tudo indica que este será meu último ano no Cinema Ritrovato de Bolonha: as passagens aéreas estão caríssimas este ano, e olha que fiz a compra antes do dólar, também ele, começar a voar.

Mas, caramba, só de ler a programação já começo a chorar por tudo que não poderei acompanhar, porque há muito mais filme interessante lá do que se pode assistir.

Vamos lá.

Faroeste caboclo

Não entendo muito bem o ambiente de violência em que vivemos.

Ele é um tanto generalizado.

Todo mundo sabe que PMs me assustam, não é de hoje.

Prefiro manter distância.

Mas a imagem do PM sangrando no UOL é horrível.

Essa questão de violência tem de começar a ser vista como geral.

Não é só o cara que bota fogo nas pessoas, que mata gratuitamente.

A sociedade está contaminada por isso.

Ou bem se cria um plano para mudar o estado de espírito das pessoas, que decidiram resolver no braço qualquer divergência (essa “percepção de que não existe justiça” tão divulgada pelos meios de comunicação não pode se isentar disso, nem de longe) ou bem vamos para a barbárie geral.

De passagem: as passagens de metrô e ônibus subiram de R$ 3,00 para R$ 3,20. Há um bom tempo não havia aumento. E ele não chegou a 10%. Me parece que foi inferior à inflação do período. Então não vejo motivo para tanta indignação. Já se engoliram aumentos bem mais salgados, ah, muito mais, sem dizer uma palavra. Não entendo o que está havendo agora, mas o desarranjo é profundo.


O pior do mundo
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Inácio Araújo

Chamavam Ed Wood de “o pior cineasta do mundo”.

Evidentemente, o mundo ainda não sabia que existiria Baz Luhrman.

Claro, entre os dois houve Zefirelli.

Mas Zefirelli é quase uma amador em matéria de ruindade, perto de Luhrman.

E assim, depois de descaracterizar Shakespeare, de destroçar o Moulin Rouge, ele ganha a oportunidade de desmoralizar Fitzgerald e o Gatsby.

De tal modo que a elegância e a discrição de Fitzgerald são encostados em favor da estética mais afrescalhada e espalhafatosa do mundo.

O “Grande Gatsby” já havia enterrado a carreira de um cineasta digno, que o reduziu a uma espécie de desfile de modas à beira da piscina.

Mal sabíamos o quanto tudo aquilo era discreto e eficiente…

O pior é que isso foi produzido e, pior ainda, promovido como uma espécie de oitava maravilha.

Uma demonstração mesmo de que quem tem a menor afeição pelo cinema são os produtores.

À americana

Olha, eu entendo que em geral essa gente que fala qualquer besteira na internet não sabe o que diz.

Mas as coisas significam alguma coisa.

De onde vem a crença de que “nos Estados Unidos cumprem a lei”? O que sabemos disso?

Sim, quem nos dá essa informação é o cinema (e a TV em menor medida). Daí essa crença boboca.

Serão eles tão perfeitos assim? Devemos imitá-los tanto assim?

Bem, talvez seja o caso de lembrar quantos massacres de malucos que saem atirando a esmo acontecem anualmente por lá.

São Paulo, Brasil

Bem, quanto a nós, estamos no centro de uma onda de barbaridades ainda incompreensível.

Não é “a impunidade”, nem “a pobreza”.

É preciso entender o Brasil e sua cultura em múltiplas dimensões se quisermos entender porque um sujeito, ou um bando deles, bota fogo nas pessoas como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Que idéia da vida, e de tirar a vida do outro, eles se fazem?

E que valor à vida cultivamos?

Não sei dizer nada sobre isso, mas tenho a impressão de que a desconsideração pela cultura, pela idéia de cultura, que dá na incapacidade completa de criar um povo único, em que o outro não seja visto como inimigo por ser preto ou branco, rico ou pobre, alto ou baixo, tem muito a ver com isso.

É coisa que deveria preocupar muito os governos, os professores, a universidade, os jornalistas


Abrindo caminho a bala ou Faroeste Caboclo
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Inácio Araújo

 

Cá entre nós, Faroeste Caboclo não é o melhor dos filmes.

Assim como no filme do Karim Ainouz a partir da música de Chico Buarque eu não consigo ver muito bem a relação entre as duas coisas, aqui a fidelidade à música de Renato Russo é, por assim dizer, canina.

Então há uma necessidade quase insana de tudo aproximar à música.

Isso, claro, dentro da dramaturgia arcaica do nosso cinema comercial.

Mas o filme faz sucesso.

Os filmes em que a música é de certo modo tematizada têm  sido um porto seguro do filme comercial brasileiro.

Há 2 Filhos de Francisco, Somos Tão Jovens, Cazuza e agora Faroeste.

Deu menos certo no Gonzaga, talvez porque o velho Gonzaga já não seja tão popular, talvez porque Gonzaguinha nunca tenha sido. Talvez porque fosse a mais intelectual de todas.

De todo modo é uma história muito bem construída, acho que a mais sofisticada de todas elas, embora a direção tenha lhe dado um tom meio sentimental que, em definitivo, não a beneficiou.

E a constância do sucesso ou meio-sucesso é incrível, porque a música do Brasil é incrível.

Mesmo o documentário musical dá pé: Cartola, O Mistério do Samba, Uma Noite em 67, Tropicália, todos deram certo à sua moda (desses só me parece meio fraco O Mistério, meio fraco como imagem, mas a música segura o rojão).

Não é apenas uma questão comercial que está envolvida nisso.

A música é esse lugar,no Brasil, em que todos nos encontramos. Aquilo que pode abrir caminho para uma democracia, isto é, um país onde todos nos reconheçamos, uns aos outros.

Anda difícil. Eu, pelo menos, voltarei a isso.


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