Breaking Bad, Ano 5, capítulo 7
Inácio Araújo
Não segui Breaking Bad porque você tem de ter um horário para assistir, saber o canal etc. e tal. Eu sobretudo não tenho esse tempo.
Faz algum tempo que meu filho chamou minha atenção para ele. Desde então tenho visto fragmentos, com ele.
Bem, foi sem ele, que nesse momento estudava seu violão, que vi um capítulo inteiro. Verdade que atrapalhei seu estudo uma vez para perguntar quem era quem na trama!
Alguns momentos: Walt senta-se à mesa. Sua mulher está na outra extremidade. Ele prepara o prato e comenta algo. Ela não responde, dá o tempo do não responder, pega o prato, o copo e levanta-se em silêncio.
É assim que se propõe a crise conjugal. Não com gritos, explicações, acusações etc. Com silêncio.
Mais tarde, Mike, um dos gangsters, se vê vigiadíssimo pela polícia. Pede a Walt que pegue uma sacola num carro e leve até ele, em outro carro. Walt, o chefe, o ex-professor de química, faz isso.
Mike recebe a sacola, abre-a, percebe que o dinheiro está lá, assim como a cartucheira, mas não o revolver. Então, Walt, do lado de fora, chega perto do vidro com o revolver e dá um tiro no próprio capanga.
Para sua surpresa, o carro arranca. Eles estão num quase descampado, perto de um rio. Logo o carro bate numa árvore ou coisa assim e para. Walt vai até lá, a porta está aberta, Mike não está mais lá.
Com todos os cuidados de praxe, Walt o busca. Encontra-o sentado, próximo do rio, exaurido, com uma bala na barriga, sangrando.
Walt esboça uma explicação do tipo “por que você fez isso? Não precisava ser assim etc.” Mike diz, sem se virar: “Fica quieto. Deixa eu morrer em paz”.
Ok, a descrição é simplória, elimina um monte de coisas.
Mas não importa: basta ela para sugerir como é invulgar esse seriado. Pior: como ele faz o que o cinema parece já incapaz de fazer. Mostrar as pessoas, seus gestos, seus silêncios, suas pausas.
Nós, em suma.
Os espectadores, não sem razão, ocupam-se cada vez mais dos seriados.
Nos seriados ainda se sabe filmar, ainda se retém o que o cinema ensinou, se tem noção do cinema e dos corpos.
O cinema cada vez mais se ocupa do que não existe.