Blog do Inácio Araújo

Arquivo : October 2011

O melhor da Mostra
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Inácio Araújo

O melhor, para mim, nesse início de mostra, é o “Habemus Papam”, do Nanni Moretti, que acabou chegando tarde e não foi exibido no domingo, que era o dia de sua estréia.

Entre os filmes estimáveis está, me parece, “Loverboy”, de Constantin Mitulescu, onde se manifesta bem o frescor do atual cinema romeno.

E a proposta, de início, parece bem tradicional: como se pratica o tráfico entre a Romênia e a Itália.

Em vez de grandes máfias, o filme se fixa em um grupo de rapazes, bem idiotas, claro, mas bem representativos do que significa essa passagem abrupta comunismo/capitalismo, em que a descrença em relação ao velho torna-se idolatria do dinheiro, convertido em valor único.

Mitulescu conduz a história de maneira bem interessante, na medida em que Luca, o loverboy da história, é que parece se apaixonar por Veli, a camponesa com quem começa a namorar, o que dá um contorno um tanto diferente a suas relações.

Vi também um Paradjanov muito bonito, o que é óbvio: ele é um esteta total e um talento e tanto. Mas não saberia dizer mais sobre o filme, de 1964.

Há abacaxis, também, como o filme de Cingapura/EUA com o qual encerrei meu domingo de Mostra, cujo nome já esqueci. Mas é o que mais irrita num fime, essa coisa que não é interessante nem tola de todo. Então é pura perda de tempo. No mais, a realizadora é de Cingapura, mas o filme passa pelos EUA, México, Japão, só não passa por Cingapura.

Ah, mas eu ia dizendo: o melhor da Mostra nem é tudo isso. É a alegria de encontrar amigos, pessoas que eu não via há muito tempo. Entre elas, o José Geraldo Couto, com quem topei num café, depois da sessão do filme de, supostamente, Cingapura.


Fim da seca: enfim começa a Mostra
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Inácio Araújo

É quinta! De quinta para sexta! No fim de semana, enfim: com a Mostra começando, nós aqui de São Paulo deixamos a imensa seca que tem sido o ano cinematográfico.

Aproveitaremos para, minuto a minuto, lembrar Leon Cakoff. Vamos sentir falta dele entrando na sala, trazendo os convidados para falar antes das sessões, chamando de lado para falar de um filme que considerava ótimo, reclamando de algo que não deu certo…

Haverá a retrospectiva Kazan, com vários títulos que há muito tempo não se vê: “Baby Doll’, “Um Homem na Multidão”, “America America” entre outros.

Haverá coisas interessantes da Itália: um Marco Bellocchio em registro intimista, muito terno, e um “Habemus Papam”, do Nanni Moretti.

Isso das coisas que eu já vi, entre elas o bom filme dos Dardenne.

O filme da Mostra, “Mundo Invisível” é quase sempre muito forte, e por vezes é genial mesmo. O episódio do Manoel de Oliveira é extraordinário: me lembra aqueles títulos de faroestes: rápidos e mortais.

Enquanto não começa, o DVD vai me segurando.

Há um ótimo lote da Lume, circulando, com o “Trem Noturno” do Kawalerovicz, e o notável “Billy Budd” de Peter Ustinov.

Por falar nisso, outro dia eu estava em frente ao Espaço Unibanco e uma grande operação de polícia pegou o pessoal da pirataria de calça curta.

É impressionante, porque tiraram camelôs e tudo mais ali da região da Paulista, mas só a pirataria cinematográfica continuava lá como se fosse o mais comum dos comércios.

Quero avisar que não tenho nada contra eles. Quem se opõe à pirataria são, de um modo geral, os grandes piratas da indústria cultural.

Tem companhia que vende produtos vagabundos, mal traduzidos e com discos de última qualidade por preços extorsivos. Eu não compro filme deles de jeito nenhum. Não estou me referindo, claro, à Lume, à Versátil, ao selo ligado ao Reserva Cultural, que lutam honestamente para sobreviver em condições mais que hostis.

Mas eu não preciso dizer dizer o nome dessa companhia em que estou pensando (no mais muda de nome mais que atriz pornô). Fico por aqui.


O sublime e o atroz
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Inácio Araújo

O sublime

Quando chegava ao velório de Leon Cakoff, na noite de sexta, um casal de amigos (cujo nome não direi, porque não lhes pedi autorização para isso) deixava o prédio do MIS.

Tinham ido prestar reverência a Leon, e explicaram: foi numa Mostra que começaram a namorar. Já se conheciam, mas o namoro começou ali, no cinema. Isso foi, disseram, na 3ª Mostra. Podiam ter esquecido. Não esqueceram.

Acho que esse cumprimento vale muito mais, infinitamente, do que a cobertura de “celebridade” que vi acontecer aqui e ali, como se Leon fosse um astro pop ou algo assim.

E, aliás, não é a sociabilidade um dos papéis da Mostra (e do cinema)? Que o digam as muitas filas em que pessoas parecidas puderam se conhecer e se aproximar.

Será bom lembrar que a Mostra está em ótimas mãos. Renata Almeida foi mais que uma colaboradora de muitos anos, foi um braço direito de Leon Cakoff por muitos anos. Mas nestes últimos meses segurou a doença e a mostra ao mesmo tempo.

… e o atroz

São Paulo foi invadida por uma onda estranha de violência. A toda horas pessoas são agredidas (homossexuais em particular) ou mortas (por automóveis, em geral), embora o caso mais recente seja de um futebolista.

A violência está também, sobretudo talvez, na linguagem.

Tomemos o caso do jogador de futebol, que estava deixando o clube onde joga, o Palmeiras. Teria sido interpelado por um torcedor sobre os maus resultados de seu time. Teria reagido agredindo o tal torcedor. Ele diz que o torcedor teria chutado seu carro

Esses detalhes são irrelevantes. O certo é que nenhum torcedor tem o direito de interpelar um jogador de time nenhum. Não é seu papel.

Para isso existe técnico, diretoria, o diabo. O jogador joga aquilo que pode, que sabe. Ninguém tem culpa de não ser Pelé.

Muito bem: estamos nisso quando um grupo de torcedores sai do bar em frente e passa a agredir o jogador.

Vejo que muita gente engoliu esse papo de que, por ter dado o primeiro soco (ou chute, é indiferente), o jogador foi o culpado pelo evento.

É um caso de conformismo involuntário (porque ligado à linguagem) quase absurdo.

Alguém que, sentindo-se acuado (vítima de bullying, para usar um termo que hoje se compreender) desfere um pontapé não tem que ser agredido por dez ou quinze marmanjos que estavam vagabundeando no bar em frente.

É uma coisa indizível. Esses selvagens existem por aí às pilhas. Mas essa demissão, essa aceitação passiva de uma explicação que não explica nada (quem deu o primeiro soco) é que me parece alarmante.

Quanto aos dois caras que agrediram os rapazes “com um tapa”, por terem sido “provocados”, não há o que dizer: o cara que dá um tapa e quebra três costelas do agredido é fenômeno a ser estudado pela ciência (músculos e cérebro).


A coleção Aplauso voltará, garante a Imprensa Oficial
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Inácio Araújo

Quem deu essa garantia, durante a coletiva que precede a Mostra Internacional, foi Carlos Roberto Abreu Sodré em pessoa, quer dizer, o manda-chuva da Imprensa Oficial.

Quem lançou a questão foi o Celso Sabadin: o que vai acontecer com a Aplauso? Afinal, a coleção não contratou livros este ano, limitando-se a lançar o que já estava acertado anteriormente.

Abreu Sodré deu aquelas tergiversadas características de político antes de concluir que a Aplauso voltará, sim, mas agora mais rigorosa, de maneira que os biografados vão se sentir mais bem representados do que no passado.

Pouco depois, alguém que, desculpe, não pude identificar, voltou ao assunto para lembrar que os autores eram escolhidos pelos próprios biografados, e que se sentiam muito bem representados, etc.

Para resumir: a prensa foi geral, as respostas vagas na medida do possível. Mas de tudo restou a promessa de que a Aplauso voltará.

Que ela é irregular, nenhuma dúvida. Pode-se encontrar lá os artistas mais “celebridades”, os mais importantes, mas também os esquecidos, os escanteados.

Algo me diz que o objetivo de Abreu Sodré (mas posso estar enganado) seja jogar os mais obscuros para fora e ficar só com as Fernandas e Walmores. Temo isso. Espero estar enganado, porque o melhor da coleção é, justamente, a “falta de critério”.

Uso aspas porque, de modo geral, quem chegava levava. Não havia esse tipo de hierarquia idiota. Isso é que permitiu traçar perfis muito interessantes de pessoas pouco conhecidas.

Isso, mais as coletâneas de textos críticos, mais a publicação de roteiros, formou em poucos anos um acervo precioso, embora incompleto, do funcionamento das artes que envolvam cinema, teatro e televisão, em São Paulo, sobretudo, mas não só.

O que ocorreu, na troca de governos, e embora ambos sejam do mesmo partido, foi mesmo a descontinuidade desse projeto, que tirou a Imprensa Oficial de sua histórica insignificância e instituiu um certo profissionalismo na atividade (como os livros são vendidos a preços bem baixos e uma parte vai para bibliotecas públicas, os autores recebiam um valor fixo pela elaboração do livro – isso em troca dos direitos autorais. De todo modo, e salvo exceções, acho que se recebia mais do que se recebe habitualmente como direitos autorais por publicação de livros).

Vamos esperar que o projeto recomece mesmo. Ele era bom. Tinha aspectos duvidosos. Não acredito que valha a pena entupir as bibliotecas de escolas estaduais com esse tipo de publicação, a não ser que seja para constar de estatísticas, etc. e tal. Mas coisas análogas sempre ocorrem em projetos estatais análogos. É um efeito parasitário meio inevitável. O que vale, no caso, é tocar o barco.


As séries estão de volta
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Inácio Araújo

O que é ótimo, elas são o sucedâneo contemporâneo do gênero: devem nos oferecer, a cada semana, algo inesperado, porém dentro do plenamente previsível.

Só uma coisa me inquieta. Por que não existe nenhuma série, uma que seja, com nome em português?

No mundo todo não é assim. Podia ser “Dois Homens e Meio” ou “A Teoria do Big Bang”, para ficar nas sitcoms.

Não sou um nacionalista furibundo, nunca fui, mas também não sou entreguista da língua. E, caramba, a vida inteira se falou de “Hawai Cinco Zero”. Por que agora é “Hawaii Five-0”?

Algumas podem ter nomes em inglês, fica até mais fácil. “Law & Order” nos fala de um mundo de law & order, bem americano. Mas outros chegam a ser obscuros.

Enfim, isso é o que eu penso, mas provavelmente ninguém concorda muito, ao menos nas TVs, ao menos entre as pessoas que acham meio distintivo dar títulos no original etc. e tal.

Alguma exceção existe: “Terra Nova” é o nome de uma série nova.


Quantas estrelas você vale ?
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Inácio Araújo

É terrível, isso: ter de dar cotações, estrelas, para os filmes que a gente comenta. Elas se tornam um absoluto. Não são.

“Trabalhar Cansa” é bem mais do que as duas estrelas (“regular”) que eu mesmo lhe dei. um filme em que os autores estão buscando alguma coisa. Não trabalham o facilitário habitual.

Mas, caramba, também é verdade que existem muitas hesitações, que o filme é como que bipartido em algo alegórico (o supermercado) e uma metade social-psicológica (o desemprego do marido).

A direção de atores hesita na mesma medida: parece às vezes que deviam ser como personagens de filme de Robert Bresson, mas ficam apenas vazios.

Como disse, é um caminho difícil, tem seus erros, mas não é inconseqüente, nem vazio, é algo que promete chegar a algo, a um cinema paulista de fato novo, como o de Anna Muylaert.

É um pouco como “Corpo”: frágil em certos aspectos, mas com algo a dizer.

Quem é o autor?

O filme é assinado por uma dupla. Digo, o “Trabalhar Cansa”.

Mas “Corpo” também. E “Alegria”.

Na verdade, duvido muito dessa dupla autoria na maior parte dos casos.

É um pouco como Walter Salles. Assinava sempre os filmes em conjunto. Com o tempo, a gente vê que algo persiste nos filmes que é dele. Daniela Thomas está na dela. E bem, por sinal.

Acho muito bom que as pessoas sejam camaradas. Mas na parceria existe alguém que inventa e alguém que segue, que ajuda, que colabora. Será bom (para as pessoas) que isso fique claro).

Belas Artes – In Memoriam

A bela fotografia que ilustra o post foi enviada pelo amigo e cineasta César Gananian. A pixação “Pasolini Passou Aqui” foi feita pelo poeta Gabriel Kerhart na semana passada.


A TV sem imagens
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Inácio Araújo

Sintonizo no rádio (na rádio Estadão/ESPN) um programa que conheço da TV, o “Sportscenter”.

Minha primeira reação é imaginar que se trata de um correlato, isto é, algo com o mesmo objetivo (resenha de acontecimentos esportivos do dia) e mesmo nome, mas feito para o rádio.

Não custo a notar que, afinal, aquele programa e o da TV poderiam ser quase idênticos. Há a voz do locutor, a do comentarista, ou a de um repórter e de seu entrevistado. Momentos de música.

Percebo, por fim, que se trata do mesmíssimo programa.

É curioso o papel jogado pela música: no rádio ela é uma espécie de respiro, de “silêncio das palavras” abundantemente usadas, enquanto na TV elas ilustram imagens.

Tudo é muito rápido: a música não dura mais do que alguns segundos, senão o programa seria musical, é óbvio.

O que eu quero notar é que, basicamente, a TV brasileira, em muitos momentos, ainda é inteiramente dependente do rádio. Com algumas pequenas mudanças seria possível passar uma novela ou um noticiário no rádio, pois a base de tudo são as palavras.

As imagens são o supérfluo da TV, a ilustração.

Graça e grosso

Vi muito poucas vezes e por poucos segundos o “CQC” da Bandeirantes, que me afugenta de imediato por causa do ruído muito alto.

Mas não me espanta a revolta de Ronaldo, o ex-jogador, o Fenômeno, com vulgaridades ditas a respeito de uma conhecida.

Me espanta que essas vulgaridades, ditas a todo instante nos programas de humor “jovem” (isto é, este e aquele outro, cretiníssimo, da Rede TV!), sejam normalmente assimiladas como coisas normais.

Existe um absoluto desconhecimento do limite entre a graça e o grosso, entre achado e vulgaridade. Pode ler ou ouvir o Simão, por exemplo: ele corteja a grosseria, mas nunca a invade.

Ok, eu e o Simão somos velhos. Mas o Ronaldo F. não é. E quando a coisa se virou para o lado da amiga dele, chiou. E diz que aí a direção da Bandeirantes chamou a atenção do cara.

Mas, caramba, até então eles não tinham notado nada?

CQC

Mas é tudo um pouco esquizofrênico, é preciso notar.

Um dos rapazes do CQC fez, há não muito tempo, um programa magnífico com um usuário de crack. Coisa relevante.

Som de vanguarda?

A única coisa que conta na TV é audiência. Acho que o mesmo rapaz se interessa muito mais por fazer programas como esse sobre o crack do que por ficar naquela barulheira.

E há o apresentador central, que um dia foi o mais que interessante Repórter Varela. A mim, em todo caso, interessava muito mais o que fazia então.

Os programas de humor “jovem” não me parecem herdeiros nem do rádio, nem da revista, nem de parte alguma. Não têm imagem e o som é inaudível.

Em todo caso, eu gostaria de um dia gravar a banda de som de um deles e só escutar. Será, talvez, uma sonoridade de vanguarda?


Morre Marlene França, musa do cangaço
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Inácio Araújo

O terrível no cinema é o anonimato de certas mortes. A de Marlene França se deu na sexta-feira.

Talvez eu, com tanto a fazer, tenha lido jornais e internet sem grande atenção. Mas só vim a saber do fato pela newsletter do Marcelo Pestana & Carlos Cirne, onde o Alfredo Sternheim publicou um belo artigo. Depois chegou o Almanaquito da Rosário e a devida confirmação.

Caramba, o que é ingrata a nossa cultura. Houve um tempo em que o simples nome Marlene França chamava espectador ao cinema, garantia um retorno.

Era boa atriz, também foi diretora de muita iniciativa, e antes disso trabalhou como continuísta, quer dizer, conhecia também funções técnicas. E boa pessoa (digo tendo a conhecido muito pouco, mas não faltam confirmações a respeito).

Num cinema onde a presença feminina era quase sempre restrita a papéis secundários (exceto como atriz, claro), ela foi uma dessas que abriu caminho, com um trajeto político, inclusive. Mas é sobretudo como atriz que se destacou. Dos filmes dela, montei “A Noite do Desejo”, que era um bom filme antes que a censura retalhasse. E ela aparecia muito bem ao lado de Ney Latorraca, Roberto Bolant e Betina Viany.

Lembro de quando Alfredo Palácios morreu. Eu recebi a notícia uns quatro dias depois. Não dava mais para publicar no jornal (era o que existia naquele tempo). E era uma pessoa adorável, o Palácios, além de muito relevante para o cinema paulista.

Bem, agora, com o blog, ao menos é permitido chegar atrasado. Aqui estou.

Marcus Mello comunica o lançamento de uma nova revista eletrônica: Orson

Belo nome encontrável desde 21/9 no seguinte endereço: http://orson.ufpel.edu.br

A publicação vem da Universidade Federal de Pelotas e a abordagem é universitária (isto é, aberta a professores e alunos de cinema e audiovisual de outras universidades, inclusive).

Vale a pena dar uma olhada, porque na base está a bela tradição crítica do Rio Grande do Sul.

O Cinema Silencioso

“Viagem ao Cinema Silencioso no Brasil”, editado e muito mal distribuído pela Azougue, está mal ou bem em circulação.

Reúne os pesquisadores que se reunem há uns dez anos na Cinemateca para estudar os filmes mudos brasileiros (os que restam…), iniciativa do Carlos Roberto de Souza que depois deu na “Jornada do Cinema Silencioso”, que já tem, salvo erro, cinco edições, uma por ano.


A Cinemateca reage
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Inácio Araújo

O que quer que esteja acontecendo na Cinemateca Brasileira parece legal.

Depois de anos de letargia aparece ali, em seguida, uma mostra Claude Chabrol, emendando com outra dedicada a Yoji Yamada (a começar, esta, no dia 25).

É claro que, hoje, o papel de difusão da Cinemateca sofrerá um pouco com a viva concorrência do CCBB, que já estabeleceu uma bela tradição na área (só recentemente trouxe retrospectivas John Ford, Minnelli, Hitchcock, e agora virá Cronenberg, para falar dos que me lembro de imediato).

E a dos filmes baixados na internet. É verdade que esses últimos existem para um prazer solitário. Ainda que sejam trocados, etc., falta esse poder único da sessão em conjunto, da conversa ou discussão que se segue.

É a esse papel de agregador que a Cinemateca renunciou há muito tempo, com vários pretextos que não vêm ao caso.

Porque à necessidade óbvia de preservar corresponde a questão imediata: preservar para quê?

O único sentido da preservação é a difusão da cultura cinematográfica. Do que vale guardar filmes “para o futuro”? E, conforme a célebre pergunta lançada a um conservador da Cinemateca britânica: “Quando começa o futuro?”.

Tenho para mim que essa coisa de ficar fechada em si mesma corresponde a um gosto meio sectário, coisa de não venha mexer comigo, não venha aqui me aborrecer. Bem, isso me parece um equívoco sem fim. Porque cinematecas não existem para dar acesso a pesquisadores universitários, mas para todo moleque fuçador que aparece por ali. Eles é que fazem a vida da coisa.

É bom ver a ficha caindo e a Cinemateca Brasileira se dando conta de que, com aquela bela sala do BNDES reservada da reuniões burocráticas do MinC, cedo ou tarde alguém ia se perguntar para o que serve essa estrutura toda.

Não menos animadora é a Sessão Cinemateca Brasileira, exibida, salvo engano, sexta e domingo na TV Justiça.

Eu encontrei por acaso, porque gosta de zapear. A divulgação é nula. Nem no site da Cinemateca se encontra nada.

Haverá alguma razão para a sessão ser clandestina?

Ali passaram recentemente preciosidades como “A Dupla do Barulho” e “Barravento”, entre outros. Coisas que não se deixam ver habitualmente.

O repertório é grande. A necessidade de remexer a história do cinema brasileiro, de encontrar coisas ignoradas, de revalorizá-las é muito grande também.

Machado, o claro

Estranho anúncio da Caixa Econômica, no qual Machado de Assis surge como correntista da instituição.

Mas o Machado da Caixa, que caminha num Rio que transpira bem-estar, é muito do branco, quase pálido. Machado não era mulato até pouco tempo atrás?


Conan, a barbárie
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Inácio Araújo

O que é a refilmagem de “Conan, o Bárbaro” a não ser um conclave de gente feia, muito feia, massacrando os outros?

Nada a ver com a primeira versão, de John Milius, com Schwarzenegger, onde se ia ao reencontro dos valores físicos do guerreiro, do conquistador, etc. Podia ser reacionário (Milius é o que há de direitista), mas estava longe de ser idiota.

Tenho a impressão de que há uma crise de idéias pesada em Hollywood. Ou antes, as melhores cabeças estão se dedicando às séries de TV.

O novo “Conan” parece um triunfo da falta de imaginação combinada com o elogio da brutalidade em suas formas mais repulsivas.

Aliás, parece bem de acordo com o novo marco civilizatório dos esportes, que são essas lutas desumanas agora em voga.