“Aplauso” na geladeira
Inácio Araújo
Ninguém se iluda com a festa que a Coleção Aplauso fez outro dia.
Lançou 18 livros, inclusive o “Dicionário dos Fotógrafos”, do Antônio Leão. A festa foi na Cinemateca, que é boa de festa.
Teve uma vez uma conselheira que aconselhou alugar os salões do Matadouro para fazer dinheiro, em vez de construir uma sala de exibição.
Não estava tão errada assim: a sala, o BNDES entrou com o dinheiro e o nome, ficou de fato espetacular. Mas a programação continua aquela coisa ranzina, de ocasião, sem alma.
Parece que cinemateca existe para guardar os filmes, não para difundir a cultura cinematográfica. Não sei o que tem lá.
Hoje tem dinheiro, tem como conservar os filmes, tem expansão do acervo, tem pessoal trabalhando…
Só que mostrar filmes ainda é uma dificuldade. Falar disso parece uma ofensa. Mas não é disso que eu queria falar.
A Coleção Aplauso está na geladeira. Está tudo parado.
Ela é uma coisa importante porque de fato botou a cultura não só cinematográfica, mas teatral e de TV para circular.
Acessível. Os livros custam uma ninharia, por isso as livrarias não querem vender. Mas vai para as bibliotecas públicas, vira uma base de consulta hoje já vem alentadinha.
Sem contar que o nome Imprensa Oficial se tornou conhecido graças a esse trabalho. Até então, era o lugar onde imprimiam o Diário Oficial, aqueles atos de governo e tal. Agora é vista como uma editora mesmo.
Pode-se dizer que é eleitoreiro. Mas isso me parece uma coisa inescapável, em todo caso. Tudo que qualquer governo faça que dê mais ou menos certo é para ganhar eleição. É a lógica do sistema, que não por acaso se chama eleitoral.
Pode-se dizer também que estou falando em causa própria, porque eles editaram no ano passado uma coletânea de críticas que eu escrevi. Mas não é isso não: saíram coletâneas de B.J. Duarte, Rubem Biáfora, Edmar, Jairo Ferreira e outras tantas. Não saiu de quem já estava publicado ou ainda não tinha saído. Enfim… Quero dizer que por aí, pelos roteiros, pelas biografias, não existe nenhuma seleção prévia, nenhum tipo de censura: entra comunista, reacionário, porra-louca, quem for.
Então, eleitoreiro ou não, eis uma coleção que não merece ficar na geladeira.